sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Nós... sem tirar nem pôr...

Para ti,

"Tu olhas para uma pessoa, uma pessoa que sabes que não é uma pessoa qualquer, porque o teu olhar fixa-se nela e quando ela olha para ti e sente o mesmo que tu, sentes que alguma coisa vai acontecer. Não sabes nada ainda, mas intuis, intuis com os teus sentidos, com o teu corpo e às vezes com o teu coração que aquela pessoa pode ter qualquer coisa para te dar, que não sabes o que é, mas sabes que um dia vais descobrir e que esse dia pode ser nesse momento, e é então que tiras os dados do bolso e os lanças para cima da mesa.

Quando nos interessamos por alguém, nunca sabemos no que vai dar. Lançamos os dados como quem os deixa cair quase por acaso e muitas vezes nem queremos saber quanto deram: um e um, dois e quatro, três e três, cinco e dois, é sempre um mistério, porque a sorte também manda na vida, manda mais do que queríamos e menos do que gostávamos, por isso desconfiamos dela sempre que nos é favorável, mas aceitamos as suas traições como a ordem natural das coisas, por mais absurdas que sejam.

Os dados caíram quando levantaste o copo e eu vi no chão seis e seis, vi-te a apanhar os dados e a rir, ouvi a tua voz e quando começámos a conversar, percebi que os dados estavam certos.

Eu gosto do teu humor, da tua música, da tua forma de olhar para o mundo, dos passeios no paredão ao anoitecer e da forma como te divertes com tudo o que te rodeia. E tu gostas da minha alegria de viver, do meu feitio, dos meus silêncios, de eu dizer sempre tudo o que penso, sinto e quero, mesmo quando não estás preparado para me ouvir. Eu gosto de ser "assim" contigo. E tu gostas de ser "assim" comigo. Gostamos de tudo um no outro.

Eu gosto de te conhecer e de te perceber, porque és diferente dos outros homens e tu gostas que eu te entenda melhor do que todas as mulheres. E gostamos de estar um com o outro; na rua, em casa, com amigos, sem amigos, com sono, sem sono, mas sempre perto quando estamos perto, mesmo que fiquemos longe quando nos afastamos.

Acredito que todos temos direito a ter sorte e que, quando alguém aparece na nossa vida de repente, ou é porque nos vai fazer bem ou é porque nos pode fazer mal. E eu vi-te com bons olhos desde o primeiro momento, achei que me ias ajudar a limpar aquela tristeza, que a tua entrada de rompante na minha vida seria como um bálsamo, uma música perfeita e harmoniosa, um dia ao sol, ou uma noite em branco, daquelas que nos fazem pensar que a vida está cheia de surpresas boas e que vale mesmo a pena estar vivo, só para as saborear.

Tu foste e és tudo isto; entre nós não há pesos nem amarras e o silêncio não quer dizer ausência, apesar da ausência reinar nos nossos dias. E acima de tudo, somos amigos... dos bons.

Quando lançamos os dados, nunca sabemos no que vai dar; tu podias ser um assassino encapotado e eu uma neurótica disfarçada, mas tivemos sorte, porque somos duas pessoas normais, com coração, e dois ou três princípios que nos fazem estar bem com a vida e com os outros, connosco próprios e um com o outro.

Só tenho pena de não ser dona do tempo, porque houve momentos que, se pudesse, teria vivido mais vezes ou mais devagar, como quem saboreia um capuccino, ao fim da tarde, junto à praia. E como escrever é a melhor forma de falar sem ser interrompido, digo-te agora e sem rodeios, fica comigo mais uma vez, vem rir do mundo e adormecer nos meus braços, abrir o teu coração e sonhar acordado, vem ter comigo hoje, porque eu quero lançar outra vez os dados e aposto que vai dar seis e seis outra vez, porque os dados nunca se enganam e a amizade é o amor sem preço e sem prazo de validade."
 
adaptação (pouca!) de "seis e seis", Margarida Rebelo Pinto
 
(E isto fomos e somos nós, sem tirar nem pôr. Qualquer semelhança com a vida real é pura coincidência... mas não está a "nossa" história cheia delas, B. :)?)

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